Presente da Pionus

Era um sábado, exatamente dia 10 de janeiro de 2021. Estava sentado na varanda com uma xícara de café em mãos quando ouvi elas chegarem. Aquela tagarelice, fez com que me levantasse a caminhasse até o portão para poder ver qual era o motivo daquilo. Estavam em seis. Fiquei quieto, tomando meu café e olhando a atitude delas.

Três delas estavam muito animadas e as outras três estavam quietinhas, apenas observavam as outras. Notei que uma das quietinhas tinha me visto. Não sabia se eram dois casais ou um casal e quatro filhotes. Pousaram na rede elétrica. Cinco bem na minha frente e outra mais à esquerda, do lado esquerdo do poste, que distava uns quatro metros e meio, mais ou menos, do lugar onde me encontrava. Essa era uma das quietinhas. Permaneceu lá paradinha o tempo todo. Outra que estava no mesmo fio da rede elétrica, o terceiro, contando de baixo para cima, porém, do lado direito, também. A terceira quietinha pousou bem na minha frente, no primeiro fio da rede elétrica. Estava de costa pra mim, olhando as que estavam animadas. Até que, percebeu que eu estava observando elas. Então se virou e me olhou descaradamente. Não tagarelou para avisar as outras. Se inclinou em um ângulo de duzentos e dez graus para me ver. E como se estivesse olhando na luneta de um microscópio, mirou o olho em mim e com aquele olhar de baetá, ficou por um tempo me observando. Depois que voltou a posição habitual de descanso, continuou tranquila, mas, por vezes, ainda me encarava.

As outras três, as tagarelas, pareciam estar discutindo. Foi o que pensei, até ver duas se bicarem na “boca”. A terceira se aproximou e fez carícias com o bico no pescoço de uma delas. A tagarelice não parava. Essas três, estavam nos cabos de telefone e internet. Aqueles fios encapados embaixo da rede de energia. Em frente de casa, foi deixado enrolado o cabo da rede óptica, que não prosseguiu até o final do quarteirão, formando uma circunferência, com um raio de uns cinquenta centímetros, tendo na ponta uma caixa de emenda para a rede, modelo 48fibras. Então elas começaram a se mover, como se estivessem a brincar de pique pega, naquele arco. Elas não voavam, apenas corriam uma atrás da outra, dando passinhos de garacininga, com a habilidade que lhes permitem ficarem de ponta cabeça ou qualquer outro ângulo. A brincadeira se estendeu, foram para o poste, onde o rodeavam e se moviam, feito duas ou três crianças, correndo uma atrás da outra em volta de uma árvore. Permaneciam em tagarelice contínua.

Já a quietinha que me olhava de vez enquanto, fixou novamente o olhar em mim, percebeu que eu estava concentrado na brincadeira das outras. Quando olhei para ela, começou a mexer na calda. Um hábito comum de higiene da espécie. Fiquei observando. Ela arrancou uma pena, segurou por um tempo no bico e ficou a me olhar. Estávamos lá, um olhando para o outro para ver quem piscaria primeiro. Foi então, que, ela se inclinou novamente em um raio de uns cento e dez graus e deixou aquela pena cair. Nesse momento o ego invadiu-me e dominou meus pensamentos presumidamente. Enquanto a pena caía levemente, lembrei do livro Pergunte ao pó, onde na narrativa o protagonista faz afirmações sobre si em terceira pessoa. Foi o que fiz, hilariantemente. Éverton Messias, grande autor; grande escritor; grande compositor e poeta. Vai transformar esse presente da puxicaraim, em uma pena de um destro escritor. Depois gargalhei internamente. Abri o portão e fui buscar a pena.

Notei o porquê ela havia arrancado. Na ponta, essa retrizes, já não estava dispondo simetricamente com as outras, com isso não realizando cem por cento sua função timoneira. Peguei a pena e voltei para o mesmo lugar. Olhei para ela, ela olhou mais uma vez para mim e fez uma breve vocalização.

Tá me zoando! Indaguei em pensamentos.

Então as outras cinco, voaram para o norte, direção que estava na minha frente no momento. Ela voou para o sul. Tive que me virar para vê-la partindo solitária. Com isso percebi que ela, provavelmente, era uma forasteira em meio aquele pequeno bando familiar. Guardei a pena.