O plantio


     Quando descobri que era um semeador, quisesse eu ou não, o desperdício, já tinha atingido proporções consideravelmente altas. Talvez não restassem sementes de boa qualidade para semear e, no futuro, colher os frutos e saciar as exigências básicas da vida.
     O reconhecimento do fato de que sou, me despertou rapidamente. Então, comecei a fazer uma analogia de tudo que havia acontecido em minha vida e tudo o que acontecia. Foi desanimador realizar essa proeza, que fiz com cuidado, devido às lembranças angustiantes que sinalizavam o tamanho esforço despendido em vão.
     Pode parecer um equívoco chamar o fato de se lembrar do passado de uma proeza. Mas, ao colocar na balança as ações infrutíferas e perceber os raros e insignificantes frutos, sem ter noção do que seria possível fazer para mudar o sentimento provindo de todas as desilusões vividas, precisei de uma robustez mental e consciencial tremenda. O que me foi concedido pelo Pai das Luzes, que envio esse poder ao meu guardião, que me amparou mais fortemente no momento.
     Era angustiante olhar tudo e não descobrir o motivo de nada frutificar. Uma vez que, eu querendo ou não, semeava, algo estava muito errado. Isso causava desgosto e limitava qualquer tentativa de plantio e perspectiva de colheita quanto ao que era semeado. Andava enraivecido, por vezes e vezes, rangendo os dentes. O joio, que plantava em meio às sementes boas, aumentava rápido e consideravelmente.
     Não tinha consciência sobre o joio, mas isso logo mudou. Pensei, ter passado a vida apenas plantando Lolium temulentum, o que me levou a novamente fazer uma retrospectiva. Apesar de durante a vida haver plantado muito infrutíferos, isso não me tornaria um campo infrutífero, porém, não colhia os frutos de nada. Havia um certo equilíbrio entre o bom e o mau. Poderia realmente atrapalhar em muitas áreas da vida, mas aquilo era distinto, sem forças para estagnar todos os frutos. Novamente revi os fatos, as histórias, as crenças, os conceitos, tudo aquilo que poderia ter me levado àquela situação infrutífera.
     Custou um pouco por falta de percepção, mas me dei conta das aves dos céus. Percebi que não estava infrutífero, e sim, improdutivo. Quando plantava, elas apareciam e devoravam as sementes. Afinal, nunca havia parado para preparar o campo, vivia jogando sementes pela beira do caminho. Percebi estar alimentando as aves e o pouco que crescia era queimado pelo sol. Além de muitas vezes, semear em terrenos alheios, o que me impedia de colher.
     Alegrei-me ao conseguir relacionar as consequências aos fatos. Ainda estava em maus lençóis.                 Contudo, decidi de uma vez por todas preparar meu campo, adubar a terra, regar as plantas, arrumar um espantalho e me alegrar com minhas colheitas.