Antes social







     Estava em um estágio da vida em que alguma coisa parecia fazer sentido. Então, por um instante, parei e concluí que algo deveria fazer sentido, porém, os caminhos que trilhava não tinham êxito algum em encontrá-los. Vivi um período de solidão intencional. Foi um período curto. Não procurava ninguém, e quando me procuravam, eu tinha desculpas para me esquivar.
     Geralmente, no final de semana, saía para as baladas sozinho. Ia para bares, lanchonetes, ‘shows’, teatro. Quando encontrava amigos ou conhecidos, não permanecia por muito tempo próximo.
Nos dias seguintes, ao acordar, aquela sensação de que algo estava faltando, havia esquecido alguma coisa e não lembrava o que era ou feito alguma coisa errada. Isso me levou a ficar mais em casa. Parei de sair. Comprava cerveja e ficava em casa. Às vezes, com violão, lendo ou no computador, pesquisando diversas coisas. As noites lendo ou no computador eram degustadas com um vinho barato.       As noites em que estava inspirado a praticar o violão, tomava cerveja.
Fiquei surpreso ao perceber que, em pouco tempo, todas as sensações, no outro dia, ao acordar, não se manifestavam. Senti a liberdade de ir e vir ou, sendo mais específico, de não ir. Tudo aquilo de: vamos lá, será da hora; vou, você tem que ir; terá não sei o que; não sei quem estará lá. Uau! Você foi? Queria ter ido; na próxima, não perco, irei de qualquer forma. Tudo isso, comecei a enxergar como realmente é, vaidades de vaidades. É inútil viver aquilo e passar pelo vazio existencial da manhã seguinte.
     Certo momento, estupefato de alegria e leveza, um pensamento tentou me assolar com a acusação de eu ser antissocial. Mas, a paz era tanta que, se isso fosse antissocialismo, eu queria ter conhecido antes.      Com uma pesquisa com essa definição, antissocial, descobri que não se compara em nada com minha condição reservada.
     Saber quem sou e aonde não vou é um elixir do viver.