Nesse dia, eu saí de casa às cinco e quarenta e cinco da madrugada, ainda estava um pouco escuro, na verdade, estava vivenciando o crepúsculo, no caso o amanhecer; o calor estava quase insuportável e o sol ainda nem aparecera no céu, o que levou minha mente a se aborrecer e entrar em uma inquietude, pois naquele horário o que se espera é um certo frescor, uma temperatura amena que gradualmente esquenta conforme o sol se coloca a pico. Plena primavera, a transição do inverno para o verão, mas parece não ter existido a transição, afinal o frio nem foi tão severo e foi bem curto, não durando os dias determinados pela estação. E também moro em uma das cidades mais quentes do estado. Enquanto me trocava, cogitava vestir um short ou bermuda, mas pensei bem e, como não estava indo para praia ou a um passeio qualquer, a consciência me acusou:
— Calça jeans, camiseta e tênis, um mínimo dos mínimos de formalidade, por favor né!
Ao entrar na van, poucas reverências:
— Olá, bom dia.
Já havíamos avançado uns quinze minutos de estrada e o que me surpreendia era o silêncio das pessoas. Era um silêncio com uma impressão, uma sensação que eu não sabia discernir o porquê. Então, de repente, a mente se aquieta, percebi que minha mente esteve, até então, extremamente barulhenta e agitada, pensei de imediato:
— Deve ter sido por causa dessa inquietação a sensação!
Comecei a rever meus pensamentos. Foi terrível! Parecia não ter pensado quase nada. O que minha consciência discordava plenamente, eu sabia que pela minha mente já havia passado um turbilhão de pensamentos, questionamentos, julgamentos, lamentos, diversões, alegrias e perspectivas quanto as atividades diárias e comum a todos, o espantoso era não lembrar de nenhum enquanto tenta rever o que tinha pensado. A mente se concentrou no fato de ter encontrado razões para achar graça em algo e riu internamente quando avistei a poltrona em que me sentaria. Pode ter sido possível que tenha esbanjado risadas no rosto, mas, devido à máscara, isso não foi perceptível.
— Você não pode se esquecer que agora com todos usando máscaras, as expressões estão estampadas nos olhos!
Um sentimento de vergonha me invadiu por um instante, mas, ao manter a mente em ordem, percebi que as minhas gargalhadas internas foram causadas pela atividade mental ininterrupta, pensamentos que tive sobre objetivos futuros e as situações cômicas que poderiam surgir conforme o rumo que essas situações seguissem.
Não estava tão quente naquele momento, o corpo tinha se ambientado com a temperatura proporcionada pelo ar-condicionado, estava muito agradável. No decorrer da viagem, se tornando dia claro a cada minuto, o amanhecer se mostra cinzento, levando meus pensamentos a questionarem se o clima mudaria:
— Será que nesses poucos quilômetros rodados o clima mudou e o dia será de frio?
Não tinha nuvens no céu, apenas uma névoa que o acinzentava.
Após fazer uma curva para a direita, a estrada se encontra em uma pequena elevação, onde o sol surge atrás de algumas árvores. Pensei que não mais o veria, pelo menos não do mesmo jeito que havia visto alguns dias atrás. Ele estava alaranjado e brilhante em plena manhã. Foi uma surpresa espantosa naquele momento, o que me levou a escrever sobre o assunto em outra crônica, intitulada “O sol nascente e tudo o que não sei”. Lá estava ele novamente apontando no céu, enorme e com todo seu fulgor. Aquele alaranjado sombrio se mostrava novamente, agora um pouco apagado devido ao acinzentamento que a manhã se apresentava, porém, ainda, sim, a mesma cor que achei sinistra no outro dia. Por um momento, considerei os vidros fumem do veículo, minha mente sagaz imediatamente se manifesta:
— Acho que você está se impressionando por pouca coisa, talvez por nada.
Questionamento que ficou pairando sobre meus pensamentos, mas não durou muito, pois, mais algumas curvas, consegui ver o sol pelo vidro dianteiro que não possui o insulfilme, o que tranquilizou meus pensamentos acusatórios ao ser uma diferença um tanto quanto sutil. Dessa vez, como tudo que o ser humano presencia ou faz repetidas vezes, o sol, como ele se mostrava no céu, o seu tamanho, aquela cor alaranjada sombria, essas coisas não me surpreendiam mais, já se tornarão normais. Agora a temperatura era quem deixava meus pensamentos tumultuados e duvidosos tentando achar uma solução caso realmente esfriasse:
— Será que o frio vai nos abater? Não trouxe blusa! Era só o que faltava! O que farei se esfriar?
Pensamentos que se desfizeram ao desembarcar e ir fazer o que tinha de ser feito. E com isso surgindo outros pensamentos com outros diálogos.