Contam a própria astúcia
— Lá vem aquela mexeriqueira.
— Não se incomode por causa dela.
— É difícil. Aquela linguaruda espelha tudo que escuta.
— É só tomar cuidado com o que você vai falar quando ela estiver por perto.
— Como se adiantasse!
Quando ela chegou, o clima do ambiente mudou, as conversas se calaram, os sorrisos tornaram-se risadas de faixada. Aquele riso forçado que dói na alma. Todos tentavam exprimir uma descontração. Ela, tentando esconder tudo que lhe afligia, escondeu todos os maus e degradantes caminhos que sempre preferiu. Desde que acordava, os seus planos eram mirabolantes para fazer as pessoas se sentirem oprimidas, desprezadas e insignificantes. Era o jeito que ela tinha de se sentir melhor com sua mesquinhez e com o pouco que tinha.
Em seus desestimulantes consolos, dizia:
— Deixa para lá! Ele vai ver. Só porque você não é capaz, ele pensa que pode fazer isso. Era o que sempre dizia em ocasiões que muitas vezes nem se faziam necessários e relativos esses dizeres. Ao falar com o que iria ver, dizia:
— Deixa para lá! Ela vai ver. É bem difícil para você, mas se um dia você conseguir, ela vai ver! E todos lhe agradeciam a consolação e diziam:
— É verdade, você tem razão. Até que ela virava as costas, então tudo mudava. Uns diziam:
— Não sou capaz? Mostrarei minha capacidade na hora que eu der um sopapo na cara dela.
Outros:
— Deixa-a! Não é assim que ela fala? Qualquer hora alguém vai desmascará-la; aí quero ver a cara de falsa que ela ficará.
Alguns, tanto dos que estavam com uns e também dos que estavam com os outros, diziam:
— Esse tipo de gente é o pior que existe. Pode ser desmascarada, apanhar, ser multada, ir para a cadeia, não adianta, não adianta! No outro dia já está fazendo o mesmo.
— É, mas fica feio para ela.
— E tem alguma coisa bonita para uma pessoa assim?
— Vem vindo, vem vindo!
— Mude de conversa!
— Melhor mudar.
— Oi! Tudo bem?
— Tudo.
— Tudo.
— Quem vai mudar?
Everton F. Messias